Aceitaram o rum de pronto. Viria gelado, de um refrigerador russo (provavelmente vermelho). E para alcançar a geladeira, antecederiam escadas ornamentais de degraus largos mal cuidados, mas ainda assim, charmosos, como é tudo que conta uma boa história.
Destoando do clichê, o refrigerador não era vermelho. Mas a bebida veio como se ansiava: forte, amarelada, fresca. As paredes, sem muito merecer, tinham quadros abstratos de um pintor amigo. Era jornalista o nosso anfitrião e tinha livros por todos os lados. Os que lhe inspiravam poesia e os que lhe instigavam a questionar a (r)evolução do pequeno pedaço de terra controverso do qual era orgulhoso habitante. No canto da sala, um computador em uma espécie de escritório improvisado e na tela, um desenho da nora, estudante dedicada de desenho industrial.
No caminho, antes do convite para o rum, era possível ver a ilha na penumbra. Caminhavam embalados por suculentas discussões políticas - exatamente o que vieram buscar. A curiosidade espantava o medo bobo que terra estranha dá. Eram os primeiros passos pela Havana suja e descuidada, mas dona satisfeita de um colorido descascado. Capital negra e suada, de uma infinidade de informações quase improcessáveis.
Para o par de cabeças estrangeiras, a estrutura do edifício era a alma da velha Cuba que se propuseram a conhecer. A degradação, a ferrugem nos detalhes nobres da arquitetura confiscada... Tudo construía uma réplica da macrorealidade da Ilha, seu grande paradoxo: ruínas recheadas de robustos valores. Um brilho tímido em meio aos eternos problemas de uma manutenção já quase desnecessária de tão tardia.