sexta-feira, 22 de agosto de 2008

Mira...


Era poesia até que acenderam as luzes e não fazia mais sentido o que se lia e o que se repetia sem parar desde sempre em todo lugar. Eu lia nas projeções minhas, versos decassílabos heróicos até que fecharam as cortinas e me permitiram, como oportunidade única, conhecer os bastidores. Era tudo prosa e trova até que gritaram pela rua despertando a realidade de um sonho peculiar. Intrigante.
Havia ainda resquícios de Lezama e Heredia até que os pombos foram vistos enjaulados. Até que o básico faltou nas tiendas. Até notar a presença da auto-censura em cada troca de palavras pseudo-inocentes. A produção de uma nova visão das velhas cores e nuances...
Nem só de palavras vive um homem.

Ainda assim, as poucas rimas ricas - lançadas à calçada - estão sustentadas pela gana de uma mudança sincera, severa e verdadeira. A luta e a resistência ainda persistem. Mesmo que, às vezes, inconsciente.

Meu retorno a Cuba redesenhou as paredes, recoloriu as escadas, os táxis e as personagens. Por aqui, há trabalho para os próximos meses. Por lá, as próximas décadas terão de se empenhar.