quinta-feira, 19 de fevereiro de 2009

Os verdadeiros cambios


A conversa impaciente na varanda em Playa esperava duas coisas: que o computador ficasse livre e que as batatas doces, cortadas em finas rodelas, fritassem.
O homem audiovisual se mexia incansavelmente enquanto expunha suas questões e lançava suas críticas de barba cerrada. Riscava o ar como se apresentasse planilhas e esquemas explicativos sobre sua obra e suas verdades.
Indignado, falava sobre o filme que acabara de produzir. A película encontrava resistência no instituto de cultura da ilha, que se esquivava do cineasta como ignorantes da informação. Pra quem via a cópia quase pronta, rodada na residência do cabeludo de sonhos infinitos, era possível sentir a indignação encher o pequeno quarto e tomar os poucos espectadores. Acomodados todos em duas ou três poltronas simples.
Ahora é intenso e trata da realidade cubana na atualidade: o exílio, a pobreza, o capitalismo enrustido, a escassez, os sonhos utópicos.
A obra é a segunda de uma trilogia crítica que chega aos olhos dos cubanos cinco meses após sua finalização. Ácida e bem expressada, será projetada em um cinema estatal - como é tudo. Um olhar coerente e sem fantasias vermelhas. Exibido legalmente na sala Fresa y Chocolate, na Calle 23, no bairro de Vedado, onde se concentram intelectuais e orgãos de cultura...
A projeção de Ahora e o debate que se seguirá, são partes de um primeiro e dolorido passo para aqueles que, obsoletos, acreditam no triunfo eterno e incondicional de uma revolução de meio século e ao mesmo tempo um respiro para os que têm ainda a esperança de que Cuba desperte para a realidade, antes que de seus 11 milhões de homens restem a metade.





foto: cartaz do filme Ahora do cubano Alejandro Moya (Iskánder)