quinta-feira, 21 de maio de 2009

La Voz



Hay quien desea que calle
que olvide, que no moleste
que me enquiste, que deteste
la áspera voz de la calle.
Hay quien pide que no estalle
que bajo el Sol me esté quieto
que vaya al mundo, discreto
que no escuche, que no siga
que mi voz prudente diga
sólo celestes objetos.

Hay quien piensa que la voz
su sino claro es servir
que la voz debe decir
alma sólo, estrella, Dios.
La voz, extraña la voz
sólo se debe a sí misma
y el hombre que a ella se abisma
como un chorro a la cascada
saldrá de la madrugada
hecha su voz la luz misma.

La voz tiene que brillar
abrirse al Sol, irrumpir
en aspa y vela, ocurrir
plena en el viento, en la mar.
La voz se tiene que alzar
de quien la tenga, hasta Dios.
Y si no le gusta a Dios
escuchar voces con nombre
que Dios fabrique otro Hombre
sin luz ni ideas ni voz...

iskánder.




Iskánder é cineasta, poeta e roteirista, vive com os pés em Havana e a cabeça pelo mundo...

terça-feira, 19 de maio de 2009




Amanhecera ali pela 7° noite. O calor, enganado por um ventilador de 60 centímetros, personificava a noite fazendo-a insinuante. Há algo no ar cubano que garante a passagem aos chamados pecados da carne. Era a única explicação que encontrava para aquela atmosfera; os reflexos dos corpos nas poças formadas pelos canos de esgoto estourados, o cheiro forte exalado pelas pessoas, a música alta que pede em gestos óbvios e sensíveis para ser tocada.
A pele estrangeira em Cuba parece brilhar mais, ela sua e desliza de baixo da roupa gringa. Vai dançando ao redor do corpo, conforme as levadas da salsa, dissipada pelas varandas esfareladas.
Andara pelas vielas estreitas e era como se fosse latinizando-se cada vez mais. Ainda que a pizza barata e o pão carregado com a mão nua, não a agradassem, ela sentia o batismo que a terra lhe concedia, ouvia os tambores santeiros de iniciação lhe dando as boas vindas. Resquícios de algum instinto ou parte de alguma história que deixamos para trás.
Ali, na parte baixa e mais cinza de Havana, os homens são brutos. Músculo, suor e fluidos, por inteiro. Em duas ou três palavras, debaixo de uma lua ignorante, a imaginação traz à tona a literatura do escritor maldito. E ela murmura faceira:
-Ah, Caribe! Não há, de fato, civilização abaixo da linha do Equador, nem vida acima dela...