terça-feira, 19 de maio de 2009




Amanhecera ali pela 7° noite. O calor, enganado por um ventilador de 60 centímetros, personificava a noite fazendo-a insinuante. Há algo no ar cubano que garante a passagem aos chamados pecados da carne. Era a única explicação que encontrava para aquela atmosfera; os reflexos dos corpos nas poças formadas pelos canos de esgoto estourados, o cheiro forte exalado pelas pessoas, a música alta que pede em gestos óbvios e sensíveis para ser tocada.
A pele estrangeira em Cuba parece brilhar mais, ela sua e desliza de baixo da roupa gringa. Vai dançando ao redor do corpo, conforme as levadas da salsa, dissipada pelas varandas esfareladas.
Andara pelas vielas estreitas e era como se fosse latinizando-se cada vez mais. Ainda que a pizza barata e o pão carregado com a mão nua, não a agradassem, ela sentia o batismo que a terra lhe concedia, ouvia os tambores santeiros de iniciação lhe dando as boas vindas. Resquícios de algum instinto ou parte de alguma história que deixamos para trás.
Ali, na parte baixa e mais cinza de Havana, os homens são brutos. Músculo, suor e fluidos, por inteiro. Em duas ou três palavras, debaixo de uma lua ignorante, a imaginação traz à tona a literatura do escritor maldito. E ela murmura faceira:
-Ah, Caribe! Não há, de fato, civilização abaixo da linha do Equador, nem vida acima dela...

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